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O inverno aproxima-se a passos largos e finalmente vai ser possível descansar um pouco mais, pois a época do S. Miguel está a terminar.
O S. Miguel era a época das colheitas. É quando termina o S. Miguel, que se faz o balanço do ano agrícola e se prepara o orçamento familiar para mais um ano com maiores ou menores dificuldades consoante os bons ou maus resultados agrícolas.
A azáfama das colheitas começava no mês de Julho com as ceifas, depois as malhadas; em Setembro começava a arranca das batatas, depois a colheita e desfolhada do milho. No mês de Outubro faziam-se as vindimas e enchiam-se as pipas com o precioso líquido e o S. Miguel terminava com a apanha da castanha.
Estes ciclos da vida dos nossos pais e avós por ventura já não serão vividos da mesma maneira pelas crianças e jovens de hoje, mas eram estes ciclos gerados à volta das atividades ligadas à agricultura que marcaram o ritmo da minha meninice.
Da arranca das batatas, há dois momentos que eu melhor recordo.
Um era quando íamos para o monte arrancar as batatas. Os meus pais, tal como a avó da Deolinda e do Francisco Cunha, também cultivavam um pedaço de terra na esturrinheira. Então, no dia da arranca das batas nessa terra, de manhã muito cedo, ainda mal se via, começavam os preparativos com o carregar do carro de bois com potes e comida, pois como a terra ficava muito longe, mais de uma hora de caminho, as refeições tinham de ser cozinhadas lá no monte. Entretanto chegaram o Sr. João Pico e o Sr. Alfredo Padeiro, que iam trabalhar à jeira, a ganhar 10 escudos mais as refeições.
Naquela época os paradenses eram extremamente solidários, com a mesma facilidade pediam e emprestavam o fermento, o pão, o forno, o moinho, a ferramenta, o burro e a junta de vacas; pediam e davam apoio na cegada e malhada do centeio, na desfolhada do milho e também na arranca das batatas.
Naquele dia, para ajudar, chegaram o meu tio Zé e a filha Maria Noémia que também traziam a junta de vacas, pois os meus pais não tinham vacas. Tomaram o mata-bicho composto por figos secos, pão e um cálice de cachaça com açúcar, e lá fomos todos em direção ao monte.
No dia da arranca das batatas todos os elementos da família participam. Os mais pequenos sacudiam a rama das batatas e apanhavam as batatas mais miúdas que as mulheres deixavam para trás, depois de escolher as batatas grandes, e os homens cavavam a terra com mestria e pontaria de forma a retirar inteiros os tubérculos. Se havia uma ou outra cavadela menos certeira, lá apareciam duas ou três batatas rachadas pela enxada. As batas rachadas tinham que ser as primeiras a ser consumidas, pois não dava conservar ou vender.
No fim do dia regressávamos, agora com o carro de bois carregado também com os sacos cheios de batatas.
Também gostava quando ia para casa do Sr. Arlindo Cunha no dia da arranca das batas. Quando era mais pequeno gostava de andar à frente das vacas que puxavam o arado que rasgava a terra para as mulheres colherem as batatas e que era empunhado pelo Sr. Arlindo. E ele falava com as vacas com aquele sotaque que arranjou nos anos que andou lá pelas terras do Brasil e que eu adorava ouvir.
Por volta das 10 horas chegava a Srª. Avelina,que carregava um cesto das vindimas à cabeça. Vinha trazer o pequeno almoço. O pequeno almoço, que na época se chamava almoço, e que era servido numa mesa improvisada com os sacos das batatas ainda vazios a cobrir a terra, e em que um prato servia para três pessoas comerem o bacalhau e as batas cozidas e molhados em azeite e vinagre. Como me sabia bem aquele almoço.
No fim do dia começava o transporte para casa dos sacos já cheios de batatas para depois serem despejados lá no quinteiro, onde formavam uma montanha de batatas.
As batatas ficavam depois à espera que aparecesse um comprador que pagasse um bom preço pela arroba da batata. O que infelizmente raramente acontecia, e o dinheiro que a venda rendia mal dava para cobrir as despesas tidas com a compra da semente, do adubo, da rega e a arranca.
Mas era assim a vida da quase totalidade das famílias de Parada, trabalhar para sobreviver. Tempos difíceis!
Francisco Gomes
Olá., meu bisavô era Crisostomo de Aguiar e veio d...
Meu Grande amigo já descansa paz
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Caro primo, essa passagem do Padre Manuel do Couto...
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Absolutamente de acordo!
Sou Cláudio Dias Aguiar, único filho do casal Raim...
domingo gordo é mesmo para enfardar :D :D :D
Os meus pesames a familia.
Como assim??