PARADA DE CORPO E ALMA
Eu arriscaria dizer que “só existem” duas aldeias de nome “Parada”: uma é “Parada do Corgo”; a outra, “Parada de Aguiar”.
Mas, dir-me-ão, “ é só uma aldeia!”
Pois é … Mas, a mim, por vezes, parecem-me duas.
Umas vezes, Parada parece-me uma aldeia extraordinariamente bonita, onde apetece estar horas a fio, sem um leve bocejo, alegre, e feliz.
Outras vezes, Parada foge-me do coração.
E porquê?
Porque, às vezes, Parada me enerva com as suas birras infantis; com as suas casmurrices. Enerva-me porque usa máscaras ( mesmo sem ser Carnaval); joga às escondidas com as pessoas, sem que elas percebam as regras do jogo; esconde-se deste ou daquele, sem que se entenda porquê.
E, quantas vezes, Parada olha certas pessoas de esguelha, como se lhe tivessem feito algum mal ?! Quantas vezes “Parada de Baixo” não fala com “Parada de Cima”, por sabe-se lá o quê? E “Parada de Cima” despreza “Parada de Baixo” como se fosse outra terra?
Parada tem casas bonitas; e eu gosto de as ver assim, bonitas. São do João ou do António ? Que me importa a mim de quem são! São belas, e basta! Vestem a aldeia de roupa nova e moderna. E é isso que importa. Adornam-na, enfeitam-na, tornam-na mais atraente.
Só não entendo porque nem todas as casas bonitas da nossa aldeia são vistas com olhar genuíno e natural. Alguns usam “lentes de aumento”, quando olham para as suas próprias casas, ou para as dos amigos e familiares; “lentes opacas” se olham para as de A ou B, com quem não se dão bem; “ transparentes” quando olham para as de C ou de D, que lhes são indiferentes.
Parada podia ser uma aldeia bem mais solidária. Mas, por vezes, parece que está com a doença de alzheimer, ou sofre de “ancienofobia” ( medo de recordar o passado).
Parada não gosta de falar do seu passado. Evita a todo o custo escrever a sua história. Estudar as suas raízes.
Talvez por isso, Parada saiba tão pouco de si; quem verdadeiramente a gerou; quem lhe deu o leite materno; quem a ajudou a crescer.
Parada não pode continuar de costas voltadas para si própria.
Porque Parada é muito mais que uma aldeia com séculos de história.
Parada é um corpo, cuja “cabeça” é a escola Primária”; o coração, a capela; e os braços e pernas, todos os que lá nascem e sempre nasceram, lá vivem e sempre viveram, lá morrem e sempre morreram.