É uma pena que ao cimo do " Largo da Horta" (nome que me é sugerido pela memória da horta que lá existiu e que terá sido doada pela Freira Emilinha ao domínio público da nossa aldeia), num sítio magnífico para se viver, surja uma casa em ruínas a desfigurar um dos centros da aldeia.
Falo da casa onde morou um casal que sobrevive ainda na minha memória e que vou aqui recordar em duas ou três pinceladas.
Esse casal, que terá vivido naquela casa nas décadas de cinquenta e sessenta eram o ti Manuel Benedito e a tia Bernardina.
Dela,recordo apenas a baixa estatura e o corpo um pouco anafado. E que era visita frequente lá de casa e, talvez por isso, lhe tenham pedido pra ser madrinha do meu baptismo.
Dele, vem-me à memória o seu talento de pregoeiro ( era ele que, no carnaval, fazia o leilão) e os foguetes que fazia estoirar no dia de Páscoa.
De facto, ainda recordo o Ti Manuel Benedito, de orelha de porco na mão a pregoar:
(...)
"Quem dá mais? Ó Ti Zé, olhe que linda!;
" Dois mil réis... está em dois mil réis e vai pró Antonho..."
- três escudos - gritava o Ti Zé...
" Três mil réis e vai pró Ti Zé!"; Alguém dá mais?"
"Olhem que rica orelheira! Vá, não se arrependem... é pró Sto António... E ele agradece..."
" Três escudos... Uma!"
"Três escudos... Duas!
" Três escudos... Três"
Vai pró Ti Zé!
" Venha daí essa garrafa de geropiga..."
O leilão como sabem é uma tradição que se mantém graças a algumas pessoas. Entre elas, destaca-se o actual "pregoeiro" ( se assim se pode chamar...), e presidente da junta, Nelson Dias.
E agora um pequeno reparo:
por que razão o leilão de Sto António deixou de se fazer onde o Ti Benedito sempre o fez? Em frente à capela do Santo?
Cunha Ribeiro, Parada de Aguiar, Vila Pouca de Aguiar