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Já que JOÃO QUEIRÓS nos encontrou, e nos está a visitar com alguma frequência, vou dedicar-lhe este Post, a ele e à sua família.
Mas começo pelo prazer da memória, isto é, por recordar aquela varanda de pedra ou sacada, ali na fachada da casa dos Moutinhos ( parte dela, aliás, adquirida pelo Ti Agostinho Monteiro ) à direita na fotografia.
Aquela varanda não é para mim uma simples varanda de pedra. É muito mais do que isso. É um elemento, um ícon, que faz parte de um sítio de encontros de juventude. Era ali. em frente àquela varanda, que a rapaziada mostrava o que valia no "salto em altura" e na "barra fixa".
Com efeito, nos fins de tarde, antes da "ceia", os rapazes mais afoitos, desencostavam da parede da eira do Ti Alfredo Ribeiro, tomavam um curto balanço e lançavam as "garras" (das mãos) à pedra daquela varanda, e lá ficavam por uns instantes, dependurados, para espanto dos que não ousavam experimentar a proeza.
Alguns faziam batota, lançando a ponta de um pé à parede, para ganharem balanço em altura, e só assim lá chegavam...
Mas para além da Varanda - e acima dela, é claro - recordo também as pessoas a ela ligadas. Quem não se lembra da magra e elegante silhueta da tia Georgina Moutinho? Do seu marido, Zé Penato, que, segundo julgo, era criado da casa antes de obter tal estatuto? E da junta de bois deste homem?
Mas para falar desta gente, e de outros ínclitos Moutinhos, não haverá melhor que o professor João Queiroga... Ou então,
a Otília
a Adelaide, ou o Sr Rogério.
Fica o repto. A família merece mais e melhor que esta simples evocação que aqui fiz.
Olhar de Fora
O Senhor Manuel Baldeiro, Foi na minha perspectiva o maior Aldeão de Parada, utilizava uma linguagem própria do tempo da idade média.
Ouvi montes de Histórias, do senhor Manuel Baldeiro, onde só, Aconteciam tempestades, noites de Inverno Tenebrosas, Bruxas e Lobisomens.
Quando eu era pequeno, o senhor Manuel, era uma Pessoa assídua dos serões lá de casa, o meu Pai como também já era velhote, era uma pessoa conhecedora dos acontecimentos cá do burgo.
Então começava o senhor Manuel dizendo - óh ti Anible, você sabe lá! Em certa altura, fulano ia com uma vizeira de cabras, atravessando a serra e depois passando um rio, isto já de madrugada, não é que foi apanhado pelas bruxas, pentearam-no, dançaram com ele até de manhã, e o desgraçado foi aparecer em tal parte!
Você sabe lá o que o homem passou
Atão! Ti anible, e o fulano de tal que ia para o Santo António, ao passar as poldras aconteceu - lhe pior, as Bruxas agarraram - no, andaram a correr com ele estrada acima estrada abaixo, apareceu depois de manhã todo incoiro, coitado! Isto são coisas levadas do Diabo.
Parafraseando numa época mais contemporânea, o senhor Manuel teve uma guerra enorme com um lobo de seu nome o” Matreiro”. Toda a minha vida me recordo, do senhor Manuel, guardar um pequeno rebanho de ovelhas, onde existia um carneiro preto e um branco, que nós rapazolas arranjava – mos maneira de eles andarem à marrada.
Certo dia, ao cair da tarde, andava o senhor Manuel com o seu rebanho, e como um relâmpago aparece o “ Matreiro”, lobo enorme, dentes afiados, e zás vai para cima das ovelhas.
- O senhor Manuel, rebola-lhe a sacholeca já toda gasta, esta bate numa parede, desincaba - se tlim tlim tlim, corre aqui corre acolá, mas o lobo”Matreiro”mais uma vez levou uma ovelha.
-Óh ti anible aquilo não é um lobo, aquilo é maior que um burro.
Sempre que eu podia nas minhas férias, ou visitas fugazes a Parada, não deixava de forma alguma, de trocar algumas impressões com o senhor Manuel
-Atão antonho, lá vens de Lisboa, como é a vida por lá! Eu dizia, é assim é assado, por isto por aquilo – ora vai rapaz, tu é que a sabes toda.
O senhor Manuel, homem que sempre estimei, morreu com a bonita idade de 95 anos, deixando saudades a todos aqueles, que com ele partilharam as Histórias do passado.
Como descendentes do senhor Manuel, existe a Lurdes a mais velha, o Joaquim, era depois o Arnaldo que já morreu, para ele o descanso eterno, a Adélia, e finalmente o João o mais novo.
O João foi o rapaz mais esperto que conheci, teve a ideia de fazer uns matraquilhos, que naquele tempo era o entretem da aldeia, as bolas eram os bugalhos dos carvalhos.
Numa certa altura, o João convenceu – me de o deixar meter as ovelhas, nos lameiros da Algobada, eu concordei, e as ovelhas lá andavam no meio do feno – credo, apareceu o meu irmão Anibal, e saca do cinto, começa às cinturadas ao João, vem também atrás de mim, mas eu fugi, só parei em casa escondido, dentro duma mala velha.
Como recordar é viver, vamos continuando a escrever, projectando – nos para além da vida.
António Cândido –
Lisboa
Sonhei-me estendido num belo e confortável caixão, rodeado de várias pessoas, com um ar semi-sério, a conversar baixinho, para só elas se ouvirem. Algumas, pelo modo como olhavam, via-se que falavam de mim. Não conseguia ouvir o que diziam, pois o ouvido não tinha sobrevivido ao ataque cardíaco que me colocara, ali, na horizontal, quieto e calado. Mas percebia, através dos olhos da minha alma, que a maior parte não lamentava a minha viagem final.
Depois, coisa estranhíssima, dei comigo, a mancar, de bengala na mão, barba branca, e meia dúzia de cabelos , compridos, a descair pela nuca, a passear pra trás e prá frente só para não estar sentado, e aborrecido, a xotar moscas, pois as crianças e os jovens passavam por mim e nem davam pela minha presença.
Logo a seguir, era já um pré-reformado, a jogar a sueca com mais três como eu, que, nos intervalos, falavam de futebol e de aventuras antigas, algumas delas, apenas imaginadas.
Seguiu-se uma ida ao hospital a ver se um miúdo nascia sem mácula, se chorava ou sorria, se era feio ou bonito, se era parecido comigo ou com a mãe.
A seguir vi-me trajado de fato, ao lado de uma mulher, de vestido brancoaté aos pés, e muita gente a sorrir, à nossa volta, virados para um senhor que tirava fotos a toda a gente.
Depois, fiquei meio parvo, à procura de não sei quem, não sei onde, meio perdido. Ia e vinha, partia ou ficava. Andava, parava.
Vi-me depois, ainda mais parvo, a fazer de conta que gostava disto ou daquilo, sempre a tentar divertir-me, a dar pontapés aqui, cabeçadas acolá, e sempre insatisfeito com cada nova aventura.
Reparei, a seguir, que estava sentado numa carteira, com vários miúdos, como eu, à minha volta e uma Senhora bem vestida a ralhar connosco. Revi, então, na silhueta daquela Senhora a minha professora primária.
Mas segundos depois, já estava no colo da minha mãe, ela a cantar-me uma canção de embalar, eu a berrar, ela encostar-me no travesseiro, e eu a dormir.
E já no fim do meu sonho, senti um estranho calor invadir-me o corpo enrolado, em caracol, num lugar muito escuro, húmido e aconchegado, e passado, algum tempo, comecei a berrar e a sair dali aos solavancos, enquanto ia ouvindo o som estridente dos longos "gemidos" da minha mãe.
Olá., meu bisavô era Crisostomo de Aguiar e veio d...
Meu Grande amigo já descansa paz
Caro primo, Fernando, pelo que me dizes só pode de...
Caro primo, essa passagem do Padre Manuel do Couto...
Parabéns, esse sim o sentido da vida, ajudar sem o...
Absolutamente de acordo!
Sou Cláudio Dias Aguiar, único filho do casal Raim...
domingo gordo é mesmo para enfardar :D :D :D
Os meus pesames a familia.
Como assim??