Depois de subir a Silveira, entro no viaduto - uma longa passadeira em betão leva-me desde o Alvão à Padrela. Olho, maravilhado, por cima de Fontes, o vale e a serra.
Do lado esquerdo, Vila Pouca é uma concha de casas e prédios, assinalando o príncípio e o fim de dois vales estendidos ao longo dos rios corgo e avelames.
O corgo, esse, escorre ali mesmo, ao fundo, à direita, por esse vale, largo e profundo, a que só o covêlo põe fim.
Subo agora a montanha, entre Montenegrelo e Parada do Corgo. O apelo às origens, irresistível, turva-me o olhar vagueante, vertiginoso. Estremeço de emoções impalpáveis mas verdadeiras. Um corropio de memórias soltas, comove-me. Reencontro alegrias passadas, amizades enfraquecidas pela distância, amálgamas de sonhos há muito deixados no corredor do olvido. O pequeno monte coberto de árvores, semeado de pedras, de rochas acasteladas, ali à direita, acorda-me do enlevo.
Olho a fraga no cimo do monte - um mamilo que o criador ali deixou sabe-se lá com que fim. E o cerro, que o sustem, é um seio da terra que ali ficou desde o princípio do mundo.
Olho de novo. Vagamente aturdido. Só vejo o passado. Descubro, então , um glorioso castelo, onde parece edificado um sonho - Parada unida, fraterna, e feliz.
Bem junto, a Veiguinha é o seu logradouro. Um lugar de aventura, de jogo, e divertimento. Um sítio onde os jovens de outrora viveram tardes de alegria, pontapeando bolas que o tempo levou.
E este que escreve estas linhas lembra, com funda saudade, esse tempo alegre, irrepetível da nossa vida com o nome sonante de Juventude.