O poema que aqui deixamos é quase autobiográfico. Foi escrito em 1984 depois de termos regressado de Angola onde leccionamos durante três anos no Instituto Hoji ya Henda ( Huambo, antiga Nova Lisboa). Antes, já tinhamos passado pela Guiné - Bissau, no ano lectivo de 1979 -80.
Num tempo em que se fala e se incita os portugueses a emigrar, lembramos aqui os muitos jovens que nos finais dos anos 70, a troco de quase nada, e depois do regresso à pátria de milhares de portugueses, foram superar a falta de professores nas escolas dos países africanos que por nós tinham sido colonizados. O país esqueceu-se, aliás como já é hábito, desses muitos jovens que, embrenhados na revolução dos cravos, imbuídos dum espírito de dádiva, sonhadores, pensavam ser possível, depois do retorno de muitos portugueses, ajudar a construir uma África mais fraterna e mais justa.
Apesar das agruras porque passamos, não esquecemos a experiência adquirida e tudo o que ficou para trás, quando o que se passou teve influência positiva em todos nós. Ficou o sonho , a amizade e a camaradagem com as gentes da Guiné -Bissau e Angola.
Setúbal, 9 de Janeiro de 2012.
SEM RUMO
Da minha aldeia parti um dia
Com amargura e desiludido,
Longe, no horizonte, o sol sorria
De incontido
Espírito de fogo em natureza
Vagueio agora sem rumo
Imerso na tragédia da beleza
Assim deliro e me consumo
Nos caminhos por onde caminhei
Pesquisei tão disforme grandeza
Que tudo aquilo que sonhei
Apenas ficaram ocasos de pobreza
Seduzido, e sempre com melodia,
Embalado por manhãs de ventura
O que eu apenas queria
Era atingir a fronteira em altura
Ai esta linha do roteiro
Que se quebrou na desilusão!
Entristado, voltei aonde primeiro
Foi a vida no meu torrão
Setúbal 1984 (J.C.Pacheco Alves)