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O Zé Sapateiro herdou este nome do pai - o Ti Carlos. Este, sim, sapateiro de profissão.
Teve, como quase todos os rapazes da aldeia, naquela época, um destino marcado à nascença - ser lavrador. Como todos os lavradores, lá tinha a sua parelha de vacas, o seu arado, e o seu carro de bois.
Depois de muito lavrar, semear, e cavar, para sobreviver- pois o centeio, o milho, e a batata estavam sempre em "saldo" no produtor - resolveu dar o salto, muito em voga na época, rumando à Alemanha. Creio que foi Hamburgo, o seu destino. Aí carregou e descarregou navios até se cansar de estar longe do berço.
Era óbvia a sua falta de vocação para emigrar. Talvez por ser solteiro, sem filhos a pedir boa vida, não esteve para sacrifícios vãos. Por isso, pouco tempo depois de ter ido, comprou bilhete de volta.
Como tinha a irmã, a Maria, a viver em Paris, fez escala naquela cidade. Por essa altura, estava eu a estudar ( e a trabalhar) na cidade luz. E claro, lá recebemos todos o Zé. Naquele dia jantámos na residência da minha irmã, no 106, da "Avenue des Ternes".
Se bem me lembro, ficou lá uma só noite, tais eram as saudades da valsada e das vacas. E onde havia de dormir o Zé Sapateiro? Justamente no meu quarto, algures no sétimo andar de um prédio sito na "Rue Pierre Demours".
O Zé Sapateiro era divertidíssimo. Pelo caminho, deixei-o deliciar-se com marcantes recordações que trazia da sua estadia alemã. "Tinha visto coisas que ninguém em Parada acreditaria ter visto!"- " Nem em Paris, nem em mais lado nenhum!"
Num ápice, o Zé já tinha conseguido o que pretendia, naquele momento: despertar a minha curiosidade para o que ia dizer. E a verdade é que eu fiquei logo impaciente. Mas esperei que o Zé continuasse a desenrolar a conversa.
O certo é que o suspense ia crescendo de rua em rua ( enquanto o Zé divagava por outras conversas, talvez com alguma vergonha em revelar aquela coisa rara e misteriosa). E foi já perto da entrada do prédio onde eu morava que o Zé se decidiu:
" Nem queiras saber.." - disse ele - "... um gaijo ia pela rua adiante, olhava pra um lado via gaijas todas incoiro, nas montras!... olhava pró outo lado, mais gaijas incoiro", nas montras...oubistes bem? nas montras!! E era-te cada par de tetas, rapaz! Nem queiras saber!"
Deixei-o embalar até onde lhe apeteceu. Estava a fazer-lhe bem recordar aquelas coisas alucinantes "que só havia em Hamburgo"... Aqui num há disso - repetia - "tens que lá ir pra ver o que aquilo é!".
- Tudo bem, em Paris, não há montras com raparigas lá dentro... Mas há montras com raparigas cá fora... Disse-lhe eu, por outras palavras.
Já estávamos a entrar no quarto. Deitámo-nos. Daí a minutos, o Zé Sapateiro roncava sonoramente. Tão sonoros eram os roncos que até as paredes devolviam o eco do ressonar.
Francisco Cunha Ribeiro
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domingo gordo é mesmo para enfardar :D :D :D
Os meus pesames a familia.
Como assim??